Um mundo que se virou do avesso

Fátima Anjos

2020-04-02


“Temos que continuar a ser responsáveis”, defendeu esta quarta-feira, o Secretário Estado da Saúde, António Lacerda Sales. Esta é, para já, a única arma que dispomos de combate a este Coronavírus que veio virar a nossa vida do avesso.

A grande maioria já percebeu isso mesmo e tem respeitado o recolhimento domiciliário em defesa das suas vidas e também dos seus empregos, cuja sobrevivência dependerá também da duração dos efeitos da pandemia no nosso Portugal.

A Câmara Municipal de Vizela e Juntas de Freguesia encerraram no último fim de semana Parque das Termas, Marginal Ribeirinha e cemitérios, na tentativa de reduzir ao máximo a possibilidade de contactos sociais. Percebe-se que nem todos entendam estas medidas como tendo justificação, mas a verdade é que temos de fechar todas as portas possíveis à entrada deste vírus nas nossas vidas.

Entretanto, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, propôs esta quarta-feira ao Parlamento a renovação do Estado de Emergência em Portugal por novo período de 15 de quinze dias para permitir medidas de contenção da Covid-19. Neste momento, não faria sentido que fosse de outra forma. Mas ao mesmo tempo o nosso Governo terá também de criar condições para que as pessoas continuem em casa. Para isso, terão de se sentir apoiadas emocionalmente, o que implicará também a tomada de medidas que lhes permitam garantir os rendimentos necessários ao pagamento dos seus compromissos. O que foi anunciado, até ao momento, não me parece suficiente. Não será. O que sinto, neste momento, é que há mais pessoas com medo de virem a ser vítimas de uma grande crise económica do que serem infetadas pela Covid-19.

Um medo com o qual será difícil conviver quando passamos a olhar o mundo apenas através da nossa janela. Um mundo de portas fechadas e ruas vazias. O nosso mundo que se virou do avesso.

Valha-nos os profissionais de saúde e todos aqueles que continuam a garantir o nosso acesso aos bens essenciais. Valha-nos os movimentos solidários de particulares e empresas que vieram nos lembrar como se vive em sociedade e provar que esta, afinal, não estava verdadeiramente perdida. Apenas adormecida. Valha-nos as nossas instituições que atuam em proximidade e vão dando as respostas possíveis para uma situação para a qual ninguém estava preparado.

Mas isto vai ter um fim. E, nesse fim, que estejamos todos cá, com a resiliência necessária para darmos a volta por cima. Não vai ser fácil. Aliás, será muito difícil.
Mas não teremos escolha.