Alves Teixeira - "O Vizela"

Júlio César Ferreira

2020-02-20


António Alves Teixeira, nasceu em 3 de junho de 1836 na freguesia de S. Miguel das Caldas de Vizela, sendo filho de Domingos Alves Teixeira, artífice laborioso, e de Maria Pereira, como se pode ver no Registo de Baptismo: "António, filho legitimo de Domingos Alves e de Maria, do lugar do Alto da Lameira da Água Quente, desta freguesia de S. Miguel das Caldas, nasceu no dia 3 de junho de mil oitocentos e trinta e seis e foi por mim, solenemente baptizado, com imposição dos santos óleos no mesmo dia. É neto paterno de Manuel José Teixeira e de Maria Alves, já defunta, ambos desta freguesia e materno de António da Costa, já defunto e de Ana Maria Pereira, desta freguesia. Foram padrinhos António Luís da Rocha Guimarães e Ana Joaquina da Costa, amigos do baptizado, ambos desta freguesia de que fiz este Assento, que assinarei".
As suas tendências para as belas - artes manifestaram-se em tenra idade, tendo apenas sete anos quando esculpiu em lousa uma pequena imagem. Apesar de tão felizes disposições, seus pais desejavam que ele fosse para o Brasil, e nesse intento tinham-lhe conseguido passagem em um navio que saía do Porto, quando se lhe deparou aqui um artista, que, adivinhando-lhe a vocação, o levou consigo para Lisboa. Passado tempo, porém, o pequeno artista viu-se obrigado a regressar a casa de seus pais, e estes, convencendo-se afinal de que a melhor carreira que ele podia seguir era a das belas-artes, obtiveram-lhe agasalho nesta cidade para poder frequentar a Academia, onde se matriculou em 1854, sendo sempre o primeiro do seu curso. Vejamos o que nos diz, Joaquim Lopes, director da escola de Belas - Artes do Porto, em 1949:
"Um outro artista se lhe seguiu com menor representação, infinitamente mais humilde, duma encantadora simplicidade, mas possuidor de reais condições para vir a ser um invulgar pintor. O jovem que pretendo colocar em evidência chamava-se António Alves Teixeira, que pouco depois de ter entrado na antiga Academia Portuense de Belas-Artes e não demorar em ser notado por mestres e condiscípulos, recebeu o cognome de «Vizela» por justamente ser esta a terra da sua naturalidade. Dizem os seus raros biógrafos que o moço vizelense viera para o Porto em 1854 iniciar os seus estudos de pintura. Embora aos sete anos de idade (!) tivesse dado mostras de natural e invulgar disposição para as artes, esculpindo em ardósia uma ingénua e delicada figurinha, a verdade é que só aos dezoito deu início aos seus aturados estudos na citada Academia Portuense.
Concluído o curso de pintura, o artista regressou à terra do seu berço onde casou, sendo assaltado no meio de uma vida quase de penúria, pela doença que o matou e que já se havia pronunciado ainda quando estudante.
Os seus antigos condiscípulos sabendo as privações com que lutava, agravadas pela dolorosa enfermidade que padecia, promoveram-lhe uma subscrição mensal, aconselhando-o ao mesmo tempo a que viesse ao Porto para consultar os médicos.
Chegado a esta cidade e animado pelas esperanças que lhe dera o médico, pintou no dia seguinte o quadro também existente na mesma academia, representando o enterro de um pobre na aldeia.
Infelizmente os seus sofrimentos recrudesceram, a ponto de ser necessário a sua esposa andar com ele num carrinho, quase mendigando, até que no dia 2 de Agosto de 1863, uma tísica galopante pôs termo aos seus dias e às suas desventuras"
O nosso ingénuo e convicto Pintor, levado pela sua original e mais ou menos precoce inspiração, nada mais fez que estudar e viver os assuntos que em seu redor lhe passavam. Oriundo de uma região exuberante de vegetação, fértil em culturas e alegre nas suas feiras e romarias, "O Vizela" nascera com a tristeza de outros mundos, de outros caracteres mais doentios e nostálgicos. Por isso a pequenina obra que nos legou pode ser considerada o reflexo vivo da sua própria alma.
O Vizela não era, por certo, um minhoto alegre e folgazão, como em regra se verifica nas nossas gentes. O seu mórbido temperamento adivinha-se em cada um dos seus quadros. Mesmo os de feição mais alegre, como «A visita Pascal», a «Procissão de S. Sebastião» ou a «Visita aos Enfermos», são repassados das mesmas tonalidades de melancólicos abatimentos. O nome e a resumida obra deste Pintor são quase completamente desconhecidos não só do público, mas ainda dos próprios artistas. Sou em dizer que apenas um ou outro dos antigos alunos da Escola de Belas-Artes do Porto, principalmente os que à pintura se dedicaram, se deteve ante os seus estudos e lhes fixou o nome do autor.
António José da Costa, pintor portuense (1840-1929) copiou, em desenho, o quadro «Procissão na Aldeia», da autoria de António Alves Teixeira, o Vizela, seu antigo colega de curso que se apaixonara pelas temáticas populares. Vizella morreu cedo, em 1863 e a reprodução desta obra tinha um sabor de homenagem e recordação nostálgica que o texto anexo, acentuava: «Vizella era um artista de grande futuro. (...) Nem antes, nem depois dele se tem pintado melhor entre nós naquele género».
Durante muito tempo, cópias ( os originais estão no Museu Soares dos Reis, na cidade do Porto) dos seus trabalhos estiveram em exposição no Edifício do Turismo e, presume - se, foram surripiados nos períodos mais "quentes" da nossa história recente. Para ilustrar o meu blogue Ponte Velha, em 2006, na Casa das Laranjeiras, fotografei uma das obras do nosso malogrado conterrâneo: “O Sagrado Viático".
Presumo que ainda lá se encontre.