Agustina

Fátima Andrade

2019-06-06


A NOSSA SIBILA DEIXOU-NOS, INVENTOU ASAS E RUMOU AOS CONFINS DO UNIVERSO
2019 tem sido um ano no feminino no que concerne àquilo que nos foi legado por verdadeiras musas da literatura que tal como Sophia de Mello Breyner não deixarão ninguém indiferente, na vida e na morte.
Muitas têm sido as homenagens prestadas a Sophia por todo o mundo lusófono, neste ano do seu centenário. Memórias impossíveis de apagar por tantas dádivas construídas de palavras feitas coisas revestidas dos sentimentos mais recônditos da saudade e da gratidão.
A três do mês corrente, eis que outra Deusa da narrativa nos disse adeus, deixando-nos, no entanto, uma extensa herança literária que passa por vários géneros literários, sendo o romance aquele que mais a prendia à sua poltrona de trabalho que tantas histórias ajudou a construir.
Agustina Bessa-Luis conseguiu criar um espaço de ficção  ímpar que lhe granjeou o respeito dos maiores da literatura, considerando-a uma das maiores  escritoras portuguesas contemporâneas. Mas é o jeito de Agustina que nos prende desde o primeiro parágrafo de qualquer um dos seus livros. A sua escrita revelava a sua personalidade: Mulher livre, irreverente, de opinião firme, traçando como ninguém os variados quadros da sociedade.
Agustina era o passado, o presente e o futuro. Era o poder, um poder no feminino que, usando as palavras, traçava de forma algo desorganizada o quotidiano das personagens ficcionais, mas que poderiam ser sempre reais e atuais.
Chamar-lhe Deusa não será exagerado e tê-la como a feiticeira que pega na palavra, a trabalha, a reproduz, a pinta em quadros feitos de ação frenética de autenticidade vivenciada, é dar-lhe o lugar que ela conquistou, como mulher genial que transportou a sua genialidade para os cerca de cem livros que nos deixa como herança. Que rica herança! É a história, também do povo português, no seu quotidiano de labuta, tanto descrevendo o nobre de alta linhagem, quanto o pobre trabalhador da terra e dela tira o seu sustento.
O seu sentido de humor inteligente e peculiar que tantas vezes desarmava, era por ela usada como uma defesa da sua personalidade franca, direta, mas altiva no seu conhecimento do mundo e da condição humana.
“Porque escrevo? Para incomodar o maior número de pessoas, com o máximo de inteligência” (Agustina)
O que nos fica é a certeza de querermos continuar a ser incomodados por esta mulher que marcou a vida de todos nós, na riqueza de linguagem encontrada nos seus romances e ensaios. Como podemos retribuir-lhe tão grande dádiva? Lendo, lendo e imortalizando a nossa Sibila que tomou asas e foi contar as suas belas histórias para o infinito.

BEM HAJA, AGUSTINA!