Humorista Luís Vieira está a cumprir um sonho de infância

Luís Vieira está a cumprir um sonho de infância no qual acreditava, mas que no fundo receava nunca conseguir atingir. Vive do humor e é hoje agenciado por Fernando Rocha, no entanto, o vimaranense sabe que este desafio é de fasquia elevada. A criatividade não pode baixar o rendimento. Esteve no Corta e Prega da Rádio Vizela e aqui fica um excerto da conversa.

Humor em rádio é mais exigente do que em televisão?

É, é muito mais difícil e dou muito mérito ao pessoal da rádio porque tem de ter a voz colocada, limpa, para transmitir sempre as sensações corretas. Honra seja feita a quem faz humor através da rádio, porque é algo e uma capacidade que já deve nascer com a pessoa, para, através da voz, conseguir passar a mensagem, com os tempos certos e o impacto certo da piada.

Como te defines?

Bem, sou humorista, ou comediante, é como quiserem chamar, é igual, é a mesma profissão. No entanto, já tive muitos trabalhos antes, a dar no duro, mas hoje já consigo viver do humor. O foco agora é conseguir este registo o mais tempo possível porque este era o meu sonho e estou a concretizá-lo agora.

Dizes que é bom ter saudades da infância porque é sinal de que fomos felizes. Tu foste?

Fui, muito feliz. Tinha um cabelo um pouco estranho e a minha mãe era cabeleireira, imagina, eu era a cobaia. Era suposto ela me pôr bonito, mas ela optava por fazer as asneiras em mim e brilhar com as clientes. Fez-me madeixas, mas em defesa dela, eu autorizava. Tive uma infância muito feliz porque, apesar de ser pobre, de uma família humilde, nunca me faltou nada, os meus pais trabalhavam muito para eu ter a melhor educação de sempre. Claro que falharam algumas coisas (risos), mas na educação e nos valores, está tudo no sítio.

Dizias que com pouco se tinha tudo. O que era o essencial?

Para mim era, por exemplo, os meus pais poderem estar presentes nos momentos mais importantes da minha vida, fosse nas festas da escola (…) A minha mãe como era cabeleireira, o sábado era um dia muito difícil, e ela por vezes estava ausente, mas também não via as poucas vergonhas que o filho fazia. Por acaso ela é uma referência para mim, porque, eu não cantando nada, a minha mãe é daquelas que diz: Olha filho, eu amo-te, mas não cantas nada (risos). No entanto, não deixava de estar presente noutros momentos, como naqueles domingos à tarde, em que íamos passear para a Penha e fazer piqueniques. Hoje perdem-se laços, porque já não fazemos em família determinados programas, como por exemplo, ver televisão em conjunto. Hoje, não se discute o que se diz no telejornal e já não se comentam os filmes, tudo isso se foi perdendo.

Estudar é que nunca foi o forte do Luís Vieira. O que aconteceu?

A minha adolescência é isso mesmo, fica marcada pelo meu sucesso nos estudos (risos). É verdade, nunca foi o meu forte, mas vou-me defender. Eu tinha as capacidades, os professores diziam à minha mãe, mas também diziam que me distraía, que brincava muito…era o caos. Mas nunca faltei ao respeito a ninguém, as queixas em relação a mim nunca passaram por aí. Na altura, eu tinha bichos carpinteiros, aquilo que hoje se chama défice de atenção. Nas aulas de 90 minutos, eu estava atento dois, não era fácil nem eu quero ser mau exemplo para ninguém, porque devem estudar.

Há ainda estigma em torno do humor, enquanto carreira?

Ainda há um bocadinho porque quando digo o que faço, há pessoas que me perguntam qual o meu trabalho de verdade. Não me desmotiva quando acontece, mas é um pouco chato. Eu sei que para as pessoas mais velhas, o que não é um trabalho típico das 09h00 às 18h00, fica mais difícil perceber, mas, hoje em dia, é possível ganhar um ordenado em casa, em menos horas.

Regra geral, quem se expõe, como tu, é tímido?

É, eu sempre fui tímido, mas disfarço cada vez melhor, acho. Quase todos os humoristas são tímidos e inseguros, mas depois usamos isto como um mecanismo de defesa. Às vezes as pessoas abordam-me e eu fico mais tímido do que elas. Para mim é mais fácil porque mando uma piadola e já descongestiona o momento.

Mas lidas bem com o elogio?

Não! Não lido mesmo bem (risos). Nunca sei para onde olhar, como reagir. Ou não sei o que fazer, ou se for algo mais emotivo, puxa à lágrima, é verdade, por incrível que pareça. Estamos pouco habituados que nos elogiem, e quando acontece, não sabemos como lidar. É quase como quando nos dizem que gostam de nós, ou que somos especiais.

Não vingaste nos estudos, mas o que te aconteceu depois?

Uma desgraça (risos). Não foi nada. Acho que fui prático, sabia que não seria justo estar a gastar dinheiro aos meus pais porque eu não queria aquilo, queria só isto e na altura não havia uma área que se ajustasse. Mais à frente, vim para Vizela para concluir o 12º ano, mas nem isso consegui, agora vou-me humilhar aqui um bocado. O EFA tinha dois anos e este menino esteve aqui uns quatro (risos).

Estava numa idade parva, 22 anos, nós homens crescemos mais devagar e eu tinha mais três colegas, um de Infias, outro de Moreira de Cónegos e outro de uma terra aqui perto, eram o Dani, o Rafa e o Gustavo, abraço para eles, e só fazíamos asneiras, brincávamos demasiado, eu não sou exemplo, atenção, sou exemplo negativo.

Depois fui obrigado a concluir pela minha namorada. E tinha de o fazer, não sabemos o dia de amanhã e no humor então, complica. Concluí na Francisco de Holanda. Antes quando me pediam escolaridade, mentia.

O que significou para ti pisar grandes palcos, como o “Levanta-te e Ri” ou o “Pi 100 Pé”, ao lado do Fernando Rocha?

Muito, foi ouro sobre azul. No primeiro “Pi 100 Pé” que fiz, estava super nervoso, mas aquilo correu bem.

Depois o próprio Fernando Rocha convidou-me para trabalhar com a agência dele e eu aceitei, era o que queria e um dos meus maiores objetivos. Estar agenciado é diferente e numa profissão como esta, é importante porque ainda há quem contrate um humorista e ache que lhe pode pagar com uma cerveja.

Na agência é diferente e eles trabalham bem, são incansáveis. O Rocha é o meu exemplo, ele tem tudo, mas não para, quer sempre mais. Foi quando participei no “Pi 100 Pé” que eu percebi que era a sério para mim, assim como fui ao “Levanta-te e Ri”. O importante é trabalhar para crescer ainda mais, não posso sossegar, nada é garantido e não faltam exemplos de pessoas que estiveram no auge e caíram.

E como é possível manter os pés na terra?

Eu sinto que fiz por isto, sempre quis e trabalhei para que algo acontecesse e orgulho-me de nunca ter passado por cima de ninguém, nunca me encostei demasiado a alguém para subir, não quero também que me peguem ao colo.

O mundo é sempre competitivo e enquanto for saudável, está tudo bem.

Adepto fervoroso do futebol, que andou a picar no basquetebol…

É verdade, estive 12 anos no basquetebol. Na minha família é tudo baixinho e eu fui até 1,75 metros, como era o base em campo dava bem. Adorei aquilo, já não jogo tanto, mas gosto bastante da modalidade e ainda vou ver alguns jogos, apesar de estar mais virado para o futebol.

Quando é que o humor dá jeito?

O humor dá jeito em todas as situações, até nas mais negativas, se bem que às vezes sai ao lado e não corre bem.

Qual é o teu palco de sonho?

O verdadeiro sonho é eu ter um espetáculo meu, no Multiusos de Guimarães. Não pode ser inatingível a partir do momento em que alcançamos objetivos que outrora achávamos que eram impossíveis.

Para quando um espetáculo teu em Vizela?

Por acaso acho que nunca estive cá neste registo, mas pode estar em cima da mesa. Quem sabe num próximo “Caralhadas”.

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