Comemorar abril é estar atento a “retrocesso civilizacional”

Hoje, dia 25 de abril de 2024, comemoram-se 50 Anos de Liberdade. O 25 de Abril, dia maior da história de Portugal, aconteceu apenas há 50 anos, mas a verdade é que em 50 anos, em Portugal mudou muito. Foi um momento marcante do nascimento da democracia portuguesa. A data simboliza o início de um caminho de profundas transformações e, apesar de todas as dificuldades vividas na atualidade, é inegável que os últimos 50 anos concederam aos portugueses a possibilidade de sonharem mais alto e verem as suas famílias crescerem em liberdade. E, desde muito cedo, que se pensou nestes 50 anos do 25 de Abril como um momento de passagem de testemunho, dos que lutaram contra a ditadura e construíram a Democracia aos que nasceram em Liberdade.

 

Essa mesma mensagem foi sendo revisitada nos vários momentos proporcionados pela sessão solene que se realizou ao final desta manhã, no Auditório Municipal Francisco Ferreira, através da apresentação em vídeo do projeto “Os Símbolos Nacionais: Portugal e o 25 de abril”, com a participação da Sociedade Filarmónica Vizelense e de Hélder Magalhães, sendo que ao escritor coube ainda a descrição de uma outra iniciativa intitulada “Cartas de Abril” que cruza, entre gerações distantes, as histórias de quem viveu os tempos difíceis da ditadura.

 

Ouvimos ainda a arquiteta Luísa Costa falar da Praceta 25 de Abril que se encontra em execução no Parque das Termas, que resultará numa "explosão da cor vermelha", numa instalação que se fará notar pela escultura em forma de cravo que lá será colocada. A inauguração está prevista aquando das comemorações dos 42 anos sobre a 05 de agosto de 1982, a data maior da luta popular de Vizela pela criação do concelho, enquadrada naquilo que significa o Poder Autárquico e o direito à autodeterminação do Povo, uma das principais conquistas da Revolução de há 50 anos.

 

Por sua vez, da intervenção política desta manhã, começamos por mencionar Francisco Ribeiro. O líder da bancada municipal da Coligação PSD-CDS/PP falou da importância da transmissão dos valores de Abril às gerações mais novas, que a passagem do tempo tem transformado num exercício cada vez mais difícil muito embora fundamental. Lembrou ainda que a “liberdade, por si, só não soluciona todos os problemas” e aproveitou o momento para se solidarizar com os povos do mundo que, privados da liberdade de viverem em paz, enfrentam momentos muito dolorosos, cujos conflitos provocados por alguns, a todos afetam. Francisco Ribeiro falou de um momento de agressão ímpar e da necessidade de haver um esforço coletivo para que estes povos possam também encontrar o seu momento de libertação.

 

Do lado da esquerda destacaram-se, sobretudo, menções ao crescimento de movimentos populistas e, em alguns casos, extremistas. Irene Costa lembrou o 25 de abril de 1974 como “um momento determinante da nossa democracia” mas também não deixou de destacar o grau de exigência dos primeiros Governos de Portugal, mencionando Mário Soares, que este ano completaria 100 anos se fosse vivo, como “o político que mudou Portugal” e que proporcionou a entrada na Comunidade Económica Europeu em 1986, decisão que veio a “conferir a maioridade política ao país”. No entanto, 50 anos depois, há ainda caminho a fazer, reconheceu a líder da bancada municipal do Partido Socialista, e também deputada na Assembleia da República. Isto porque entende que há um movimento de populismo, que não é exclusivo a Portugal mas que ameaça a democracia e que é preciso combater. Falou também de uma “igualdade que tarda em chegar”. Irene Costa lembrou o quanto continua a ser difícil ser mulher no séc. XXI, ora apontada “pelos vestidos ou pelos sapatos que usa”, ora prejudicada pelas desigualdades salariais ora continuando a ser vítima da violência doméstica.

 

Seguiu-se Fernando Carvalho, que atribuiu a todos a responsabilidade de defender as conquistas de Abril. Entende o presidente da Assembleia Municipal de Vizela que aqueles que desejam um regresso ao passado – à ditadura – se cobrem sob a capa do populismo e do descontentamento do povo. “50 anos depois, temos, infelizmente, uma franja da população que não sabe o que significou e o que significa ainda o 25 de abril. Temos de perceber o que correu mal, delinear uma estratégia e colocar uma linha vermelha” que impeça este mesmo regresso ao passado.

 

Além disso, a liberdade nunca pode ser dada como adquirida, como algo inquebrável. Defendeu, logo depois, Victor Hugo Salgado, apontando o risco de estarmos perante um retrocesso civilizacional, sempre que ouvimos falar sobre o regresso ao serviço militar obrigatório, sobre a aprovação de um hipotético estatuto de dona de casa ou é colocado em causa o direito à interrupção voluntária da gravidez. No entanto, esta manhã, o presidente da Câmara Municipal de Vizela, apresentou-se de “gravata verde” e fê-lo para que esta pudesse simbolizar a esperança com que entende que devemos encarar o futuro. Garantiu que no seu papel, de presidente do Município, continuará a trabalhar, junto das várias instituições e parceiros, para preservar e colocar em prática os Valores de Abril.

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