Vizela… é agora?

Jorge Coelho

2017-12-07


A convite da digníssima Directora deste jornal aceitei escrever, pontualmente, artigos de opinião para o mesmo, valendo o que cada um(a) lhe quiser atribuir. Decidi fazê-lo porque muitas das minhas “costelas” são vizelenses, por diversas razões. A única condição que propus foi escrever sobre turismo e tudo o que gravita em torno do sector, o que pode ser muita coisa. Questões políticas incluídas. Afinal é a minha área de formação e de desenvolvimento profissional. Começa agora, terminará quando tiver que terminar.
E Vizela poderá estar a ter um novo começo, pois como se sabe o município conta com um novo Executivo. Com isso, é natural que os vizelenses tenham esperança num futuro melhor para a cidade e para o concelho, independentemente em quem tenham votado em Outubro passado. Certamente pretendem que haja evolução e desenvolvimento, obviamente sustentável, pois nos últimos quase 20 anos muito pouco foi feito nesse sentido. Não houve visão nem estratégia, pelo menos a que seria desejável.  
Tudo parece ter andado ainda mais lento que o caracol da rede Cittaslow. Exemplo de algo mal explicado à comunidade local e de deficiente implementação, tendo resultado em pouco mais que nada. Quando muito em situações ambíguas ou contraditórias, pois, se aderem a uma rede que supostamente, e segundo o que ainda está descrito no website da Câmara Municipal, “veio reconhecer a aposta de Vizela num turismo de qualidade, pela construção de equipamentos de lazer e fruição da natureza”, como é que ainda (!!!) permitem a realização de concentrações de motas dentro do Parque das Termas, ao mesmo tempo que proíbem a circulação de bicicletas? Pois é, salvo raras excepções, em Vizela tem sido assim. 
Nos dias que correm denota-se da parte de quem lidera a Câmara Municipal alguma vontade em mudar para melhor. Contudo, isso já seria esperado por quem assumisse funções após as Eleições Autárquicas, fosse quem fosse. Sendo certo que ainda é muito cedo para se fazer qualquer avaliação à actuação do actual Executivo, tendo para já todo o benefício da dúvida, pode concluir-se que de momento, em relação ao turismo, as palavras são as de sempre. As acções, esperam-se muitas, eficientes e eficazes.
A intenção em resolver-se definitivamente o (ainda) problema das termas é um sinal positivo e a notícia de que o Orçamento de Estado para 2018 prevê a reposição da medida que apoia os tratamentos termais, que tinha sido suspensa em 2011, poderá ajudar. Mas desenganem-se os mais optimistas. Com ou sem espanhóis Vizela não voltará a ser a Rainha das Termas em termos práticos/reais. É um produto pouco ou nada apetecível para quem dele não necessita por prescrição médica. Quando acontece, vale sobretudo pela reabilitação ou manutenção do património, o que é importante. Portanto, não será por aqui que Vizela se tornará muito mais procurada em termos turísticos. Será exigido um maior e diferente exercício, mais imaginativo, criativo e inovador, se o objectivo for crescer e desenvolver. Até aqui, não tem acontecido. Alguém saberá porquê. 
Por vezes basta ser-se coerente com aquilo que se é e com aquilo que se tem. Depois, usa-se essa coerência em benefício próprio. O que quer dizer que os recursos endógenos (aqueles mesmo muito vizelenses!) estão aí para serem utilizados, sejam eles naturais, patrimoniais, históricos ou de outra tipologia, carecendo apenas de quem, à luz de um plano, os organize e valorize devidamente, podendo depois em conjunto com ideias e conhecimento resultar em acções potenciadoras da criação de valor. 
Disponível continua a estar também a vontade das gentes de Vizela. Um elemento importantíssimo na equação do desenvolvimento. E para o confirmar seria apenas necessário ter-se estado atento às palavras dos responsáveis pela Comissão de Festas, Unidade de Cuidados Continuados, Rádio Vizela e Restaurante Avelino, no âmbito do programa “Aqui Portugal” da RTP, que resultaram, para mim, sobretudo em três importantes desígnios; identidade, orgulho e união.  
E se durante a festa se verificou a legítima importância do envio de beijinhos, porque resulta na felicidade das pessoas que o fazem, a verdade é que este tipo de programas também demonstra uma espécie de publicidade que não sendo enganosa, omite debilidades estruturais, por isso mais importantes para a vida da sua comunidade, mas que ela própria, por desinteresse e/ou ignorância, não sabe mas sente. Em Vizela, possivelmente para além de outras áreas ou sectores da economia, o turismo é muito frágil.
Posto isto, porque nem tudo é necessariamente mau e há obviamente muito de bom na cidade e no concelho, parece haver condições para um novo ponto de partida. Vizela…é agora?


O autor não utiliza o novo acordo ortográfico por vontade própria