“O futebol será sempre o mais importante das coisas menos importantes”

Manuel Marques

2019-04-11


Contam os mais antigos que a rivalidade entre Moreira e Vizela teve origens no futebol, e só por aí, mais propriamente no início da década de 40 com os dois clubes mais representativos dessas localidades a medirem forças dentro e fora do campo com guerras de “lana caprina” onde não faltavam sequer bizarras canções com refrões e estribilho tipo «a minha galinha é melhor do que a tua» mas que poderão ter tido reflexos na empatia dos moreirenses por Guimarães e mais tarde na decisão área político-administrativa com Moreira de Cónegos a ficar de fora do projeto do Concelho de Vizela.
Por esse tempo (O Moreirense foi fundado a 1 de Novembro de 1938 e o Vizela a 1 de Janeiro de 1939), ou por lá perto, de igual forma a clubite obrou semelhantes (e até bem piores) rivalidades em muitas outras terras ao ponto de se trocarem “galhardetes” na métrica dos gentílicos apelidando-se alguns de Marroquinos, Mouros, Andrades, Lampiões, Lagartos, Espanhóis, Cubanos e por aí fora. 
Merendas Velhas, um dos primeiros guarda-redes do Vizela, contou à Rádio Vizela, aí por 1987, era esta rádio ainda «pirata», que a guerra entre os apaniguados do Vizela e do Moreirense começou quando ele se transferiu do Vizela para o Moreirense. «Foi a gota de água que fez transbordar o copo» - lembrou essa velha glória da bola já desaparecida num piquenique em dia de S. Bento das Peras, entre outros episódios que envolveram mais tarde outros jogadores como Tardina, Camilo, etc.
Fez-me lembrar Merendas Velhas a recente polémica que envolve o guarda-redes cónego Jhonatan, o Moreirense e o Vitória pelo que se coloca a questão: Não teriam seguido um rumo diferente as relações entre vizinhos se este caso tivesse acontecido no início da década de 40 originando séria rivalidade entre Moreira e Guimarães, como era apanágio daquela época, se os dois clubes competissem entre si?
As incompreensíveis rivalidades, sejam quais e onde forem, dificilmente morrem de todo pois tratam-se de doenças de longo prazo mantidas especialmente no seio dos adeptos dos clubes que, olvidando o velho adágio que diz ser melhor ter um bom vizinho do que um bom irmão, arrimam todo o reportório para cima de quem está mais próximo. Por outro lado, as direções dos clubes, a quem se exige melhor formação futebolística, acabam por ter encontros e acordos amistosos entre elas – a não ser que haja os milhões da UEFA em jogo - como devia ser apanágio de todo o futebol e como tem acontecido entre Vizela e Moreirense. 
Na esteira deste comentário (que escrevo satisfeitíssimo pela carreira do meu FC Vizela e congratulando o vizinho Moreirense pela excelente campanha que está a realizar) tomo a liberdade de reproduzir algo de belo, apesar de triste pela sua origem, que li esta semana, nada mais nada menos que um escrito de um clube dirigido ao seu eterno rival:
Escreveu assim a Administração da SAD do Vitória Sport Club: «Por entender que o futebol será sempre o mais importante das coisas menos importantes e que há campos onde não moram rivalidades, a Vitória Sport Clube, Futebol SAD endereça as sentidas condolências ao SC Braga e ao atleta Sub-19 David Veiga, pelo falecimento da sua mãe, que perdeu a vida num acidente de viação quando se deslocava para o encontro entre o SL Benfica e o SC Braga». Este é o lado mais bonito do futebol. Que alguns não gostam!