Abade de Tagilde

Júlio César Ferreira

2020-04-02


Nascido a 30 de Dezembro de 1853, filho de Jacinto Gomes de Oliveira, Maria Alves de Abreu Pereira, em Bugalhós de Baixo, freguesia de S. Vicente de Mascotelos, João Gomes de Oliveira Guimarães, ficaria para a posteridade como o Abade de Tagilde. João Gomes de Oliveira Guimarães notabilizou-se como historiador, arqueólogo, epigrafista, escritor e jornalista. Exerceu funções de vereador e de presidente da Câmara de Guimarães. Podia ter sido bispo, mas não quis.
A sua obra mais marcante é uma impressionante compilação de documentos sobre o período medieval vimaranense, os Vimaranis Monumenta Histórica. Esta obra Vimaranis Monumenta Histórica, resultou de uma proposta aprovada pela Câmara Municipal de Guimarães em 6 de Abril de 1898, que pretendia reunir os documentos históricos vimaranenses, desde as eras mais remotas aos tempos actuais.
A Câmara custearia a obra, sendo que a sua execução ficaria a cargo da Sociedade Martins Sarmento. O trabalho seria assumido pelo Abade de Tagilde, que compilou e transcreveu os documentos que recolheu percorrendo, perscrutando e revolvendo arquivos públicos e particulares onde sabia e presumia existirem monumentos, que desde a Idade Média se referiam ao território vimaranense.
Em 1867, depois de ter começado os seus estudos em Coimbra, matriculou-se no Liceu de Braga, onde será conhecido pelo apelido de Santo Amaro. Como estudante, teve um percurso brilhante. Terminado o liceu, em 1872, inscreveu-se no curso de Teologia do Seminário de Braga, que concluiu com sucesso em 1875. No ano seguinte, recebeu as ordens de presbítero. Em 1886 anos tomou posse na paróquia de Tagilde, onde permaneceria um quarto de século, até à sua morte em 20 de Abril de 1912. Quando foi indicado para bispo, José Maria de Freitas Cardoso, seu correligionário, aconselha-o a aceitar a indigitação para empunhar o báculo de bispo, mas o Abade recusa, argumentando: “Habituei-me de tal forma à Sociedade Martins Sarmento e à minha freguesia que destas entidades tão queridas não me posso separar”.
O “bichinho” da politica nunca o abandonou e nos primeiros anos do século XX, João Gomes de Oliveira Guimarães, abandona em definitivo os seus projectos de exercer a política a nível nacional, voltando a sua intervenção para a vida municipal e entre 1902 e 1904 foi vereador da Câmara Municipal de Guimarães, assumindo a sua presidência desde 1905 até à instauração da República em 5 de Outubro de 1910. Da sua acção ficaram conhecidos os projectos de renovação urbanística que apresentou em sessão municipal em Abril de 1906.
Como nos diz a insigne historiadora e minha querida amiga, Dra. Maria José Pacheco, no seu “Das margens do Vizela - Memórias”, Edit. Magnólia, 2007, pág. 386, 387,388 “…como jornalista, escreveu artigos de grande interesse sobre religião, política, cultura e história, principalmente nos periódicos progressistas: “Vimaranense”, “Imparcial” e “Progresso”. Na “Revista de Guimarães”, em que colaborou durante trinta anos, deixou trabalhos relevantes, merecendo ser citados entre outros os seguintes artigos: “Os Priores da Colegiada”. “O Convento de Santa Clara”. “A Freguesia de Tagilde’’. “O Couto de São Torcato”, “O Couto de Ronfe”. “A Terra das Caldas de Vizela”, “O Teatro…”
De Tagilde e com data de 1899 , o Abade de Tagilde dedica ao Dr. Pereira Caldas, CALDAS DE VIZELLA, (Notas históricas), nestes termos: “Ao Exmo. Dr. Pereira Caldas professor decano do lyceu bracarense”: A terra das Caldas de Riba de Vizella, compreendendo, pelo menos, as duas freguesias de S. Miguel e S. João das Caldas e a de Infias, formou na segunda época da monarquia portuguesa um concelho ou julgado independente, com justiças privativas, que, embora de efémera duração, é um dos muitos títulos de honra, que a formosa povoação de Vizella pôde com justa ufania apresentar aos milhares de forasteiros, que anualmente a visitam”.
O arquivo nacional ria Torre do Tombo, e ainda outros, conserva, com o resguardo que merecem, os preciosos documentos que fornecem aos vizellenses as provas irrefragáveis desta apreciável prerrogativa”.
No Archeologo Português - Mosaicos romanos de Portugal - Mosaicos de Vizella, 1903 - pág. 243 a 246 e seguintes, diz - nos Oliveira Guimarães: “ Estes Formosos mosaicos são uma prova mais, aliás desnecessária, da alta importância que Vizella atingiu em remotos tempos”. E continua: “É sabido que os Romanos, aproveitando-se da incomparável riqueza das aguas mineromedicinais, que aqui jorravam e já conhecidas é utilizadas em época anterior, erigiram neste local um desses luxuosos estabelecimentos, que nos manifestam a grandeza e sumptuosidade, que o povo-rei costumava dar ás suas construções. São tantos e tão significativos os vestígios que em Vizella se tem encontrado, que não é fora de razão afirmar-se que as balineae vizelenses foram na época lusitano-romana um modelo no género” São publicados nas págs. seguintes uns belos mosaicos romanos, com desenhos de José Luís de Pina e BraulioCcaldas.
E numa nota breve, volto novamente ao convívio com a Dra. Maria José Pacheco e á sua obra acima citada: No coração dos vizelenses, ficou também a saudade e o reconhecimento, comprovados na toponímia. Lembro, apenas, que a Avenida de Abade de Tagilde teve como primeiro patrono, o republicano Professor Miguel Bombarda, facto que ainda hoje é referido por alguns anciãos, uma vez, que os topónimos não se apagam facilmente da memória dos homens!