Rui Amorim: “Juntos somos o FC Vizela”

Treinador apostado num bom início de época, este domingo em Barcelos

Apesar de ainda jovem – 41 anos – o seu percurso no mundo do futebol é já preenchido. Em Vizela, Rui Amorim encontrou a tarefa de “colar os cacos” num plantel em que, grande parte dos jogadores, viveu a desilusão da falha da subida na época transata. Rui Amorim sabe o que isso significa, viveu o mesmo ao serviço da União de Leiria mas quer seguir, esta época, o caminho da glória e dar muitas alegrias aos adeptos do FC Vizela. Está tudo pronto para o jogo de domingo, em Barcelos, frente ao Gil Vicente, como referiu o treinador em entrevista ao RVJornal.

 

 

RVJornal (RVJ) – Como entra o futebol na vida do Rui Amorim?

Rui Amorim (RA) – O futebol sempre foi a minha paixão, desde pequenino. Comecei como praticante, depois licenciei-me em Educação Física, na vertente Futebol e depois da faculdade fui para a formação do Boavista. Depois passei, como adjunto, por vários emblemas, desde a Distrital até à II Liga, no Varzim com o Abílio Novais e o Semedo [técnico que trabalha hoje no FC Porto, clube no qual foi jogador]. O Abílio Novais tinha um sonho de ser presidente de um clube e foi, do Canidelo, e foi quando me convidou para ser o treinador principal dessa equipa e foi a minha primeira experiência como técnico principal. Começou tudo muito bem, subimos de divisão logo no primeiro ano, estive lá três anos e fizemos as melhores classificações de sempre.

Depois, passei por Pedras Rubras, Ribeirão, Vilanovense, Boavista até que surgiu a oportunidade de seguir caminho e hoje, é com muito orgulho que estou em Vizela e que quero dar uma grande alegria a todos os vizelenses.

 

 

RVJ – Chegou a jogar futebol?

RA – Sim, no Salgueiros, clube que também representei enquanto treinador antes de ir para o Santa Clara, e também no FC Porto. Mas foi aqui que os meus pais acharam que eu deveria dedicar-me aos estudos. Hoje, quero viver como treinador aquilo que não pude viver como jogador. Ou seja, nunca mais voltei a jogar futebol, mesmo depois dos estudos. Deixei o futebol em Juniores e claro que me custou. Era a minha paixão e é algo que eu não quero fazer ao meu filho. Que Deus permita que ele se foque nos estudos mas que consiga conciliar com o futebol, se ele quiser e se lhe der prazer. Não quero tomar uma decisão dessas porque é algo que nos fica marcado para sempre como pessoas.

 

RVJ – Até aqui, quais os momentos que marcaram a sua carreira?

RA – Pela positiva, claro, as subidas de divisão. Pela negativa, esta recente pela União de Leiria que sem perder não subimos de divisão porque sofremos o golo do empate a 15 minutos do fim. Posso dizer que foi o momento mais marcante da minha carreira, num estádio com 15 mil pessoas a assistir à partida que ia decidir tudo.

 

RVJ – Depois de falhar o objetivo, como se encara um estádio com 15 mil pessoas?

RA – Encarando de cabeça erguida, foi o que disse aos jogadores. E de consciência tranquila porque durante os 90 minutos – e na fase regular – fizemos tudo para conseguir dar uma alegria a toda aquela gente. O Leiria fez um campeonato fantástico, perdeu apenas duas vezes e esse mérito ninguém podia tirar. Assumi, falhei mas saímos de cabeça levantada. Tem que ser assim, faz parte.

 

 

RVJ – É uma das vozes críticas deste figurino competitivo…

RA - Sou. Penso que é unânime no seio dos jogadores, dirigentes e é algo urgente de resolver. É preciso sentar e debater com mais calma porque penso que não é assim tão difícil arranjar o formato ideal para este campeonato. E, para mim, o formato ideal é aquele que já o foi no passado, isto é, Zona norte, centro e sul e chegar ao final, os primeiros classificados subirem de divisão. É o mais justo porque é o premiar da regularidade das equipas ao longo do campeonato. E o Vizela foi um dos clubes que sofreu com isto na época passada. Fez um grande trabalho e deixo aqui os parabéns aos intervenientes, inclusive ao ex-treinador, Carlos Cunha, que fez um trabalho fantástico e que, por um jogo, não subiu. Portanto, este figurino tem que ser repensado por todos, a bem do futebol português.

Com toda a certeza, quem está a definir o campeonato desta forma, não estará no terreno a ver como as coisas correm e não sei se está a auscultar as pessoas corretas que são os dirigentes dos clubes, os treinadores porque são os que estão no tereno e os que passam pela experiência na prática e não nos gabinetes. É a minha visão porque não quero acreditar que pessoas que vivem no terreno esta experiência, possam continuar a organizar campeonatos nestes moldes.

Um campeonato, e é bom que se diga, que cada vez mais está a alimentar o futebol profissional, em que os taletos começam a despoletar e a alimentar clubes da II e da I Ligas. Onde há treinadores também com grande capacidade que precisam de oportunidades e estas só surgem com campeonatos organizados e justos, se é que podemos falar em justiça no futebol.

 

RVJ – Como surge a oportunidade de treinar o FC Vizela?

RA – Surge de um grande interesse dos dirigentes do clube que me fizeram uma abordagem, mostraram-me as ideias que tinham para o Vizela para esta época mas não só, também para os próximos anos. A sede de vencer e a ambição que me passaram, tanto o Eduardo [diretor desportivo] como depois, todos os dirigentes da SAD, foi um desafio… e eu sou um homem de desafios. Juntando a sede de vencer que eu também tenho, ao poder regressar ao norte para poder estar perto da minha família, e o poder ajudar este clube a alcançar o patamar que também ambiciona, estavam reunidas as condições para dar este passo. Sou mais um para ajudar este clube.

 

RVJ – Era conhecedor da realidade do FC Vizela?

RA – Já por cá tinha andado como adversário. Vim cá pelo Santa Clara, na II Liga na altura, aliás, depois de deixar o Salgueiros, foi aqui o meu primeiro jogo pelo Santa Clara, portanto, isso ficou marcado. Depois chegar a vir aqui em missão de observação na época passada.

 

 

RVJ – Qual o impacto quando chega a Vizela?

RA – A forma como fui recebido pelas pessoas, por toda a estrutura da SAD, a enorme vontade que demonstraram em ter o Rui Amorim como treinador esta época.

Isso deixou-me mesmo imensamente satisfeito, pois gosto de me sentir bem onde estou, e fui muito bem recebido em Vizela e estou muito feliz.

 

RVJ – Quais as informações que lhe passaram sobre o clube e a sua massa adepta?

RA – As que eu já conhecia por acompanhar o fenómeno do futebol, tendo o FC Vizela como possível adversário na época passada. Sei que é um clube com muita tradição, com adeptos apaixonados e bairristas pela positiva, porque por vezes as pessoas encaram isto como negativo. Eu não. Sou completamente defensor do contrário. Já tive a oportunidade de treinar por todo o país e digo sempre, com todo o respeito por toda a gente, que o público do norte é diferente e eu sou do Porto, sei bem o que isso é. O futebol está no norte, os meus amigos e colegas do sul não gostam muito quando digo isso mas eles, sempre que podem querem vir trabalhar para o norte. É onde há mais clubes, mais equipas na I Liga, é onde é mais possível observar jogadores e treinadores. Depois os adeptos que vivem o futebol de uma maneira diferente. Penso que não é só no futebol, as pessoas do norte vivem tudo com mais sentimento e paixão.

Sabemos que isso acarreta níveis de pressão maiores mas, tal como digo aos meus jogadores, se queremos chegar a outro patamar, temos que saber lidar com isso. E eu prefiro lidar com essa pressão porque credito na minha equipa técnica, nos meus jogadores, sabemos o que queremos e o que fazemos. Com essa paixão e força dos adeptos, podemos ser uma força difícil de bater.

 

RVJ – O que é que a SAD do FC Vizela lhe pediu?

RA – Pediu-me para construir uma equipa que seja forte e que consiga ambicionar chegar ao fim da época num lugar de subida e que prepare o plantel para poder disputar o jogo e a vitória em qualquer estádio. Um trabalho que não será só desta época, ou seja, já vem de trás. Optaram por mudar [de treinador] e eu sou mais um com essa vontade de vencer tal como toda a estrutura.

 

RVJ – Houve muitas renovações, ou seja, muitas continuidades. Tem o papel de gerir emocionalmente aqueles que na época passada viveram um dissabor forte e prepará-los para uma nova travessia, que se avizinha longa. Como é que isso se faz?

RA – Respondo-lhe com as palavras que dirigi a eles porque eu estou no mesmo barco. Aquilo que eles viveram na época passada, eu – e a minha equipa técnica - também vivi e sei bem o que é.

Temos que aproveitar essa experiência dura para todos e encarar esta época ainda com mais força, perante adversários de respeito que têm o mesmo objetivo do FC Vizela. Vai ser uma época difícil mas esperamos superar esses adversários.

 

RVJ – E como está o plantel emocionalmente?

RA – Parece-me motivado desde o primeiro dia, com solidariedade entre todos, com grande ambição. Querem concretizar o que não conseguiram na época passada e têm essa grande vontade de dar essa alegria aos adeptos que os acompanham em todos os estádios e têm essa dívida para com eles. Voltam este ano para trabalhar muito e festejar no final.

 

RVJ – Quais os seus critérios na elaboração do plantel?

RA – A juntar aos jogadores que tinham contrato para continuar, juntar-lhe mais-valias dotando o plantel de equilíbrio e qualidade para enfrentar esta nova época não só de competências técnico-práticas mas também de competências humanas, de caráter e de homens com “H” grande.

É sempre minha intenção contratar jogadores com grande caráter.

 

RVJ – Porque é importante ter uma boa equipa, mas também um bom balneário?

RA – Acho que o ideal é começar por ter um bom balneário, para ter uma boa equipa. E eu tenho, nesta altura, um bom balneário.

 

RVJ – Está fechado o plantel ou ainda falta reforçar algum setor?

RA – O plantel está fechado. Neste momento, estou muito contente com o plantel que tenho.

Os jogadores trabalham diariamente com muito profissionalismo e ambição, ansiosos para que comece o campeonato para iniciarmos bem esta campanha. Sinto enorme vontade neles de começar bem.

 

RVJ – Já percebeu que o FC Vizela aposta forte na formação. O Rui Amorim defende a integração de jovens dos escalões na sua equipa sénior?

RA – Eu não olho a idades, mas sim a rendimento. Interessa-me a performance e que trabalhe bem durante a semana. Todos os anos tenho lançado jovens, basta olhar para o meu histórico como treinador.

 

RVJ – Já teve oportunidade de contactar mais de perto com a massa adepta do FC Vizela?

RA – Sim, de sentir o calor, não só na apresentação da equipa no centro da cidade que foi onde senti um arrepio e a paixão mais de perto, e depois nos jogos de preparação, em especial no jogo frente ao Famalicão. A equipa esteve bem, perante um adversário experiente, e fomos alvo de uma ovação da parte deles, mesmo depois de um nulo a zero no marcador.

Posso prometer empenho e trabalho e espero que se revejam nesta equipa porque nós vamo-nos rever neles. Não há aqui o grupo de adeptos e o clube de futebol, nós, juntos, somos o FC Vizela.

 

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