Miguel Araújo concedeu entrevista à Rádio Vizela

Miguel Araújo concedeu uma entrevista à Rádio Vizela, poucas horas antes do concerto no Centro Cultural Vila Flor.

RVJornal (RVJ) – Está a poucas horas de mais um concerto. Em que se concentra?

Miguel Araújo (MA) – Não faço grandes coisas para me concentrar, tenho medo de ficar nervoso e não penso nisso. Quando dou por mim já estou no palco e vou-me concentrando nas primeiras músicas, vou-me soltando. Não tenho grandes rituais. O único ritual quando estou um pouco rouco, é fazer um chá de gengibre. A única coisa que tem de haver no camarim é gengibre. A única superstição. Fora isso não tenho mais nenhuma.

RVJ – Cada concerto é considerado único? Vai escolhendo alinhamentos diferentes?

MA – Sim, eu adapto o alinhamento ao sítio onde estou. Os concertos são todos diferentes porque o público é sempre diferente. Eu posso tocar as mesmas músicas mas depende se as pessoas conhecem ou não e se são mais participativas. O público é que determina. Às vezes até pergunto se querem ouvir uma música em particular e começa a ser mais interativo.

RVJ – Como se cativa o público? Há algum segredo ou técnica?

MA – Cada um tem de ter a sua maneira. Convém que seja a mais natural possível. Há pessoas que têm uma postura de puxar pelo público e pedir palmas. Eu não tenho muito essa postura. Falo duma maneira igual como falo cá fora. Comento as coisas que estão acontecer nesse momento, não posso ir com coisas muito teatrais para cima do palco. Cada um tem de ser o mais natural possível. Por exemplo, o João Gilberto não abre o bico e não deixa de ser uma coisa bastante cativante.

RVJ – A música chegou até si muito cedo, através de ligações familiares, ou seja dos tios. Foi importante darem-lhe a conhecer o caminho ou acredita que a música chegaria a seu tempo?

MA – Não sei. Isso ninguém sabe dizer. As coisas vão se cruzando na vida das pessoas. A vida vai-se desdobrando em novas possibilidades. Se os meus tios não tivessem uma banda ou se não ensaiem na casa da minha avó, eu não seria músico. Ou não seria desta maneira e influência. A música que eu ouvia aos 12 anos nenhum dos meus amigos ouvia, era música dos nossos pais, era Beatles e coisas assim. Sentia-me muito sozinho no mundo. São essas bandas que influenciaram, principalmente, a minha música.

RVJ – Quanto à composição quando se deu a descoberta? Foi gradual?

MA – Foi. Eu sempre fui fascinado pela autoria das músicas, de onde vinham, quem as fazia. Sempre me fascinou esse mundo. Vivia a frustração de não ter essa capacidade. Mas tentei. E de tanto teimar de que seria capaz e de tantas músicas que deitei fora, houve um momento em que se deu um clique na minha cabeça e consegui fazer. Agora, até que a torneira se feche, vou aproveitar.

RVJ – Um músico é mais completo, sendo compositor, intérprete e tocando um instrumento?

MA – Não sou o melhor guitarrista, cantor, compositor, letrista, nem produtor. Nada disso. Tenho um bocadinho de todas essas coisas.

RVJ – Como se sente ao ver as suas músicas reconhecidas pelo grande público?

MA – É o meu sonho máximo. É para isso que eu trabalho. Onde eu gosto mais de me afirmar é na autoria das músicas. O maior privilégio enquanto autor é ver a Carminho, António Zambujo, Raquel Tavares, Ana Bacalhau, Ana Moura, ver essa malta toda a fazer sucessos. É a minha grande recompensa do meu árduo trabalho diário. Ver as minhas músicas cantadas por outras pessoas é uma coisa absolutamente incrível.

RVJ – O corte do cordão umbilical com “Os Azeitonas” foi feito de uma forma gradual. Foi para não custar tanto?

MA – Eu tinha os meus concertos e a banda viu-se impossibilitada de dar resposta às solicitações. Eu passei de principal impulsionador da banda, a ser a principal pedra no sapato. A solução que se encontrou foi a minha saída. Não significa que seja totalmente definitivo.

RVJ – 28 Coliseus com Miguel Araújo e António Zambujo. Uma loucura?

MA – Foi uma grande loucura. Uma coisa inexplicável. Houve um momento em que virou uma febre. Pareciam aqueles vídeos virais. Mas aconteceu na vida real. Já não sabíamos o que dizer um ao outro.

RVJ – Sonhos a curto prazo?

MA – Vem aí um novo disco, sai a 19 de maio. O meu terceiro. Chama-se “Giesta”, que é sitio onde nasci, na Maia. Espero que as pessoas gostem das músicas. Que as acolham e que acrescentem algo às suas vidas.

RVJ - Mensagem final para os ouvintes da Rádio Vizela?

MA – Oiçam as minhas músicas. Gosto muito de Vizela. Conheço vários espaços e tenho pessoas amigas.

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